quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Copo meio cheio.

E que venha só aquilo que valha
Não só à pena, mas um par de asas!
E que o amor apareça de maneira plena
Porque de nada valem as migalhas
Que a mente possa ser serena
E que o sorriso absolva as falhas
E quando o mundo resolver mostras as garras
Desejo não dar ouvidos à gente mal amada
Para assim seguir em frente e não estagnar por nada!
Quando eu estiver cansada e não conseguir crer em mais nada
Desejo que me mostrem que estou enganada
E que me digam que a vida vai ser sempre ter tudo e ter nada.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Recife, 20 de dezembro de 2013.

   Hoje mais um rei foi deposto e seus súditos embriagados de tristeza cantarão suas canções com uma tristeza nova, que é a de saber que partiu o rei dos traídos que choram mágoas de copo em punho em cada bar, contando para cada garçom desavisado o suficiente que foi deixado, traído e que mesmo assim, ainda ama alguém profundamente leviano, e que vai chorar sim, mesmo que o objeto de seu amor não valha sequer a lágrima de um bêbado magoado, e o novo amigo que serve a mesa vai acabar servido de confidente servindo também aquele choro a mais na dose do boêmio descontente.
   Rossi como todo bom músico de sua época, era fã dos Beatles, do cigarro careta e acreditava de coração que mágoa nenhuma sobreviveria quando era afogada em álcool. Ele cantava em francês e também na língua dos desiludidos do amor. Todo desiludido do amor amanheceu órfão hoje. E só por hoje, todos somos mudos. Ele cantou o nosso Recife e tinha aqui o seu refúgio. Reginaldo Rossi foi um rei próximo de seus súditos como poucos reis conseguem ser, ele era tão humano, que seu corpo pediu a dolorosa.
   Hoje é sexta e estaremos todos embriagados, contidos em nossa tristeza ou fazendo um novo amigo no bar. Chorando os amores que não nos amaram ou pulando de cabeça em mais um sentimento destrutivo e ordinário. Sabe amigo que me lê, o céu aqui no Recife é quase sempre azul e hoje o Recife está com um céu cinza, pálido, hoje todos nós e até mesmo os céus do Recife, comungam  na saudade que já se faz presente. Que Deus o guarde, e quando der, olhe por nós.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Das pessoas e bananas amadurecidas no carbureto.



Ando pensando bastante em Andy Warhol desde que Lou Reed morreu. Venho comparando determinadas pessoas com bananas amadurecidas no carbureto. Na Alemanha as bananas são horríveis segundo um amigo de lá, eu acho que é culpa dessa maturação forçada. Eu conheço pessoas horríveis aqui que me parecem amadurecidas no carbureto.
   Num dia elas tem discursos ferozes sobre sua dificuldade para confiar e dar amor, e, no entanto mal te viram as costas e aparecem plenas de paixão, escrevendo coisas românticas e estúpidas como disseram que eram incapazes de fazer e ainda mais de sentir. O fato é que não adianta lamentar; bananas de carbureto sempre estarão no mesmo cacho com outras bananas de carbureto e fatalmente a atração acontece, cedo ou tarde.
   Fico pensando na voz quase monocórdica do Lou interpretando “pale blue eyes” mantenho a voz em mente pra tentar não me alterar e escrever com a mente. Qual o objetivo dessa tentativa desgastante? É mais uma necessidade que um objetivo, pensar sobre bananas e pessoas amadurecidas no carbureto já me consumiu o suficiente, e eu não acho isso sozinha, me disseram até: “Foi melhor assim, estava lhe fazendo mal”.

   O ponto é; eu não sou boa em calar, e eu sou do tipo de pessoa que se machuca mesmo, que chega às vias de fato, que se arrebenta, e não por ter uma natureza masoquista, mas porque eu acho que só vale à pena viver tudo, sem reservas. A covardia diante da vida e do sentimento me frustra e me faz ser indiferente a qualquer apelo das almas que escolhem o purgatório seguro de uma vida mais ou menos. Entre pouco e nada, eu fico com nada.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Risco I

Deixe de tanto lamento
A vida é só um momento
Tudo o mais é perda de tempo.
Enxuga esses olhos
Olha pra vida de perto
Não pense tanto no que parece certo.
Aceite a mulher que já é,
Esteja de pé e crie coragem
E pare de pensar que a alegria é uma fragilidade.
Se apresse em ser tudo o que quer,
Se arrisque na aventura de ser essa mulher,
Tudo o mais é bobagem.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Clarice e eu.

Eu sempre evito citar Clarice nas redes sociais, não porque a obra dela não tenha sido de grande impacto na minha vida, mas talvez, por ter sido de grande impacto. Quando penso em Clarice Lispector algumas coisas me veem à cabeça: sangue, primeira menarca, poesia, fluxo de consciência, pecado.
Eu não sei o que parece a quem lê pela primeira vez essa minha lista de coisas que Clarice me trás, mas talvez eu seja capaz de esclarecer algumas; e começo pelo pecado; um trecho de um texto que li e me rasgou como um punhal: “... receba em teus braços o meu pecado de pensar...” pensei Eva, Virgínia, Pagu, eu e tantas mulheres sem nome, entretanto todas nós, pecadoras. Pecadoras desde o ventre, por querer mais, por abraçar o prazer e o grito, por não ser constituída de silêncios.
Fluxo de consciência, técnica usada por Clarice com maestria, fazendo com que seja impossível de lê-la somente, topar ler Clarice é dar às mãos a ela, e abraçar o que vier e bem, a linha de tempo não vai ajudar. Pra mim Clarice é poesia pura, eu acredito na prosa poética, no encantamento das palavras, e poesia pra mim sempre vai verter sangue. A primeira menarca, eu estava brincando de bonecas quando aconteceu a dor e a minha casa de mulheres estava feliz com esse “desabrochar” e eu me lembro de olhar aos prantos de dor e medo para a minha mãe que me olhava no chuveiro e perceber pela primeira vez que ela não ia me fazer parar de sangrar, e que aquela era só a primeira vez onde não havia o que ser feito que eu precisaria sangrar e abraçar toda dor pro resto da vida e estaria sozinha nisso, por mais que quisessem, ninguém sangraria por mim. E quando eu achei que havia entendido tudo, eu li a paixão segundo G.H. de Clarice e chorei novamente quando ela disse que temos que ter cuidado com os defeitos que cortamos em nós mesmos, porque nunca sabemos ao certo qual deles nos mantém de pé.

E foi um ano de folhas em branco. Um ano me fazendo de pedaços de silêncios, um ano para aceitar minhas falhas como parte de mim e poder escrever novamente. Por isso evito citar Clarice. Seria desnudar demais a minha história sacar da manga uma frase sua pra cada vez que um qualquer machucasse meu coração.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Escreve cacete!

Dedico essas mal traçadas linhas à Mauro, Maurissso, Maurínio em retribuição ao tempo dispensado ao tratamento de algumas fotos desta que vos escreve.  

 É de conhecimento geral a minha falta de habilidade para tratar e editar imagens, até porque para ser um bom editor, você deve ser paciente e detalhista e essas duas coisas me provocam gastrite. Eu estava tentando explicar isso a um editor (designer na verdade) amigo, que se a questão fosse escrever, seriam outros quinhentos.
   Outra coisa que se sabe é que amigos de verdade podem usar qualquer vocabulário e até mesmo torcer para times que prefiro não tecer comentários, daí ele me disse: “Vai escrever cacete!” E aqui estou eu. Não entendo o mecanismo da escrita, até porque como quase tudo na minha vida, escrever é uma coisa emocional, por tanto não existe um processo para que eu escreva, o processo é o que sinto e preciso dizer.
   Preciso dizer que eu tenho que aprender a editar fotos, preciso dizer que a ideia por si só é torturante pra mim, entretanto se faz necessário, temos que ter um limite de até onde podemos explorar um amigo. Minha história com a escrita começou na escola nas aulas de filosofia e interpretação de texto, mas não consigo me lembrar qual foi a primeira vez que senti essa necessidade que tenho de escrever, mas são anos de expurgos feitos em palavras.
   Quando ainda estava na adolescência escrevia sobre sofrimentos, adolescentes tem uma carga dramática enorme, e por tanto eu tinha muito sobre o que reclamar, sofrer e escrever, com o tempo percebi que quando escrevia, ao menos metade daquilo tudo que eu sentia e não sabia controlar ficava no texto. E vi aí o meu escape, escrever era mais vital que ouvir música, embora algumas músicas nunca possam ser substituídas por qualquer texto, mas o texto era eu, e essa conversa com a caneta e o prazer de tatuar palavras em páginas em branco se tornou parte do que sou.

   Então finalmente tenho uma resposta à solicitação desse muso inspirador; escrevo sim, e vou escrever sempre, mas prometo tentar editar uma imagem aqui e outra ali.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Confiança

Eu ouvi o barulho, ouvi quando algo aqui dentro se partiu. Era a minha fé, não uma fé religiosa, mas aquela que temos em quem amamos. Não sei quando vou confiar novamente, ou se vou confiar em alguém novamente e depositar nessa pessoa todo o meu amor e a minha fé. Existem pessoas que estão fadadas a nos trair e decepcionar e dessas conseguimos nos precaver, mas quando a traição parte do objeto do nosso amor, é como um assalto; você quer falar, sua boca abre e você fica assustado, as pernas ficam fracas assim como os braços e o coração pesa toneladas. Quando o ladrão vai embora com tudo o que era seu, seu por direito, por mérito, por ter sido conquistado as suas pernas finalmente não suportam mais e você cai sobre os seus joelhos e a confusão toma conta.
São muitas perguntas ao mesmo tempo, por que comigo? Por que agora? O que eu faço agora? A traição de quem se ama deixa esse buraco cheios de perguntas que nenhuma resposta vai ser capaz de justificar. Só existe o fato; você confiou, foi pego de surpresa e agora não sobrou nada. E enquanto você tenta juntar os cacos da sua alma em pedaços você ouve todos os “eu te avisei”, “andar por aí é perigoso” , “amar é perigoso”... mas antes de acontecer não era, antes de acontecer, confiar era a coisa mais certa a ser feita. Se não fosse tão triste, seria até curioso ver como algo que precisou de tanto tempo pra ser construído se desmanchou em segundos, é como um castelo de areia feito perto da arrebentação das ondas.
E a culpa é toda sua. Você resolveu confiar, ninguém te pediu isso. Você construiu um castelo na beira d’água, você andou por onde não devia. Você merece. E agora, mesmo arrebentado, você tem que juntar o lixo. Você tem que catar cada plano e cada sonho que caiu no chão, você tem que olhar bem pra cada um deles e saber que por muito tempo, como assombrações eles aparecerão e não te deixarão dormir. Mas existe outro fato que compõe essa equação; confiança só se perde uma vez, e em todas as outras equações que surgirão na sua vida, você vai ter que pegar o resultado e deduzir a confiança. Ao mesmo tempo, depois de levar uma porrada assim, não vai restar ninguém a quem desapontar e você está finalmente livre do julgo alheio. Falharam com você, lhe deixaram, por tanto ninguém pode lhe pedir mais nada porque você foi tudo o que pode ser, e acabou descobrindo que o tudo que você pode ser não vai ser suficiente pra algumas pessoas.
Pra encerrar, eu acho sim que você deve chorar por isso, que você deve tomar um porre. E você tem todo o direito de amaldiçoar quem quer que seja, mas sem nunca esquecer de que a vida é uma ordem, e que mesmo com a sua fé quebrada, você tem a obrigação de ir em frente e fazer o melhor que você puder, até porque ninguém vai fazer por você. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Frágil.

   Frágil. Eu não sou isso. Eu nunca fui, então, porquê agora? Eu pisei as cabeças das serpentes que cruzaram meu caminho, eu subjuguei os demônios que me pertenciam, eu sobrevivi à morte dos amores que vi nascer, eu estou de pé depois de ter morrido pela primeira vez, eu não sou o tipo de pessoa que tem fragilidades.
   A sensação é vívida, é como uma fratura exposta, minha alma está por fora. Não é a lua, não é o meu corpo, é algo que dormia aqui dentro e que eu fiz calar tantas vezes que acreditei que era algo mudo. Ou que havia morrido de inanição. Mas agora sei que me espreita, que me vigia e é difícil admitir, mas me atormenta.
   O que era mesmo aquilo que eu sempre quis? Não sei o que era, mas era o bastante e às vezes até me transbordava. Será que na luta entre o mar e a rocha, a rocha sou eu? Será que vou vergar até quebrar? Eu já verguei tantas vezes, achava que a minha alma era tão flexível quanto meu corpo. Eu fui treinada pra isso, conheço cada músculo do meu corpo pelo timbre da dor e eu fiz doer tanto até que não restasse dor pra sentir. Será que a minha alma quebra? Não consigo não imaginar quando será o dia em que direi que fiz e fui tudo que pude e não foi suficiente.

Frágil. Cuidado: frágil. Sou uma taça. Uma taça frágil e vários “e se?” sussurram metálicos no meu ouvido. Ninguém pode saber, ninguém deve saber. E talvez por isso seja prudente escrever e lançar aos quatro ventos, quase ninguém acredita no que lê. Ou pior, ninguém presta atenção naquilo que lê, e esquece de lê tudo que não está escrito no nosso código corrente de escrita. Todos poderiam ser mais se quisessem, mas só iriam querer se fosse fácil e rápido, o fato é que nenhuma alma é assim. Frágil? Só? Mas porque eu iria querer que ficassem e falassem se todos estão surdos? Eu vejo as bocas articulando algo, vejo olhos que entregam que seus donos são surdos e já articulam palavras vulgares em conversas sem sentido. Antes frágil do que à prova de laços.