segunda-feira, 29 de julho de 2013

Iceman,

Essa caixa, mantenha bem fechada
Nela consta meu coração que reluta em amar ainda
Nesse envelope, estão todas as poesias
As tuas as minhas e aquelas não escritas

Nesse relicário está guardado o nosso encontro
Não abra. Você não o quis.
Acordei banhada em sangue e dor
Eu gritei seu nome, aos quatro ventos
Eu os roubei dos anjos para ter voz

Eu tenho raiva de mim por ser teu fantasma
Teu passado
Eu não tenho mais saco pra tua presunção de achar que me sinto eternamente culpada.
É porque sou mulher ou porque sou cristã?

Meu coração estúpido clama que eu pare
Por Deus, pelos céus, por mim, por ele, pelo sonho
Não sabe ele, cego infeliz, que foi preterido pelo maior amor que quis
E que este estava velho demais, cinza demais, atarefado demais.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Não ouso mais do que (simbolicamente) pousar a mão no teu ombro
Só quero que saiba que estou aqui
E que a marcha dos dias não me levou embora
E se um dia...ah, talvez um dia...

Eu só não quero bagunçar tudo
Como a onda que quebra na areia
Quero poder estar, mesmo assim como quem tá de passagem
Eu estou aqui.

Quiçá um dia estaremos.
Desconverse tudo isso
Não se afunde nos meus olhos castanhos
Me chame de estranha
Finja que não reconhece todas as marcações desse roteiro
Diga que o tempo não trás nada de volta
Que eu fechei todas as portas
E que você selou novamente os muros à sua volta.
Não importa
Eu vou pular o muro
Eu vou abrir a porta
Vou te tirar do escuro
Vou te trazer de volta.

domingo, 21 de julho de 2013

E por acaso sou brinquedo quebrado
Baralho incompleto ou qualquer coisa do tipo
Pra ter que ter alguém pra me completar?
Acaso não nasci inteira, e minha felicidade depende de alguém que não sou eu?

Usa a razão e percebe o quão completos somos
A sua felicidade é problema teu
A minha é problema meu
Juntos a gente pode ter amor feliz dos dois lados

Sem essa falsa necessidade
De outrem pra ser metade
Alguém pra jogar a culpa

Esquece das culpas e pecados
Porque à única coisa a que somos realmente fadados
É a arcar com nossas escolhas e vontades!

É necessário muito tato
Paladar apurado
Olhos gulosos
Pra não temer provar

Não é pra toda língua
Nem todo verso
Nem pra muita prosa
Mas é impreterível saber provar!

Achar a doçura no visível azedume
Não se assustar com pouca coisa
Ou com o que não é de costume

Há que deixar que exploda na boca o perfume
Da fruta vermelha acre e doce perfume
Porque esse sabor não se dá a qualquer desfrute!

sábado, 20 de julho de 2013

Frio no estômago sintoma do medo
Seria pra mim? Ei de perguntar?
E se não for?
Desassossego.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Foi tão grande o intervalo pro segundo ato
Que não sei mais se essa deixa era minha
Acho que tenho medo de nas minas teres
Mais paz, mais vida livre do que talvez a você não mais se destina

É desatino meu eu sei, mas não sei guardar segredo
É destino meu sofrer em versos loucos
Embotados pelos olhos de mar que tenho
E andar na areia pensando nas coisas que deveriam ter sido

E que podem ser, nunca lí o futuro pra saber
E do que eu sei, de fato me basta
Porque me enche o coração de brasa
Tanto eu te amo aqui dentro
Que no fim desse verso, só posso dizer que sou grata, tantos morrem sem saber o que é isso...



A lágrima que salga o rosto é a mesma que borra a página
A lágrima que escapa dos olhos na emoção da alegria
É a mesma que desfia a dor e a solidão desse dia

O poeta que canta o amor
É o mesmo que sente medo
E que insone se entrega à agonia

O amor que enche os livros
É o mesmo amor que endurece corações
E que faz com que tudo, tudo isso não seja mais que nada, canção emudecida, rima vazia, sede não saciada.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ele não se esconde mais e seu canto é tanto!
Não sei se faço o bem que achavas que eu fazia
Mas o moço tá pra lá de bem

Seu canto continua lindo, claro e limpo
E sua alma parece em paz
Quem me dera, que eu poeta miúda encantasse de novo esse rapaz...


resposta possivelmente tardia,  à uma moça que me escreveu uma coisa linda sobre eu encantar um tal cantor.
Desassossego
Alma teima em dar-se toda
A quem se quer
Quer reparar.
O que pode o tempo contra tanto encantamento
Quando com voz de trovão até o céu me defender
Quando a terra de novo generosamente florecer
E o mar de ondas como cachos unir céu e terra no horizonte?

O que fará o tempo que só sabe passar
E que nunca vai entender das perenidades do sentimento
Passará de mais a mais sem julgamento
E com esse passamento crescerá firme tudo que trago por dentro

O que pode o tempo se nem Deus quis que fosse infeliz esse intento?
E o que dirá quando mesmo por cima dos anos eu seguir sem lamento?
Que vai pensar quando souber que sou amiga do vento?
E que nasci sílfide, senhora do ar, desde o início dos tempos.
Incerto e grave o céu se abriu na babilônia
E meus olhos derramam o dia que a cabeça não pode sorver
Anjos me colocam de pé
Onde estavam enquanto eu sofria pesadelos e morria todas as noites?

terça-feira, 16 de julho de 2013

Todo aquele que escreve
Carrega a inerente marca
Aquela que nos irmana
A saudade que nos castiga mas não mata

Melancolia o ópio de uma alma viciada
Dependente de alguma falta
De qualquer desejo mal satisfeito
De algum querer sempre escrava

Alma elástica que deseja o mundo
Sempre com sede sem aceitar o copo d'água
Caso saciada, mal humorada silencia
E dela nem mais uma palavra.



O tempo passou como previsto
E eu caminho como quem perdeu ou deixou cair algo do bolso
Olhando o chão que já andei
Querendo achar sei lá oquê

E a vida seguiu, como estava arranjado que fosse
E nossas costas encurvaram mais
E os sonhos ficaram pequenos
Uma viagem, um dia, "E se?"

E a vida desfez da gente
Do nosso amor, de todo caso
Dos sonhos grandes
Da nossa coragem

Restou a companheira fiel e amarga
Que fere como faca e que como um cão
lambe de lembranças toda marca.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Descrentes do amor
vivendo em escalas de cinza
A tristeza da covardia
E de envelhecer no desamor

Pobres almas que de tão fustigadas
Hoje temem o fogo do espírito
Pobres almas aprisionadas
Em conceitos, jeitos e ritos

Jovens acovardados envelhecem
Num só grito, o lamento dos condenados
A viver sempre numa espécie de limbo
De onde só saem devidamente moldados
A repelir todo gesto de carinho.
Em cada mecha do cabelo agora comprido encontrei justificativas pra ter saudade
No sorriso que escapa na distração de um momento
Nos brincos e nos óculos reconheci aquela velha vaidade
Confesso nesses versos irregulares que agora são provas da minha insanidade
Que sinto que naquilo que sou, nunca te deixei de verdade

A verdade é que sempre será parte e que não se mata um amor que foi regado com arte
Então reabro as feridas onde sepultei tudo do que fostes bem mais que parte para extrair a poesia que eu deixei que secasse.

escrito em 07/06/2013
Dar-te todos os segredos
Revelar-me com arte
Te plantar sorrisos nos olhos
                                  e na face]
E enfim beijar-te

Deixar que conheças da minha pele
Não só os tons
Mas os gostos e calores
Abandonar-me segura do teu abraço

Guardar no teu peito-relicário
Todo o amor que em meu peito cultivado
Gravar nos corpos os desejos
Que nem os anos e tempestades fustigaram.